As novas gerações possuem um padrão de comportamento diferenciado devido a aspectos culturais e tecnológicos
Entender e lidar com o comportamento dos adolescentes pode ser desafiador, mas também é uma fase cheia de oportunidades para construir uma relação sólida e positiva. Entre 12 e 18 anos, eles passam por grandes mudanças físicas, emocionais e cognitivas e desenvolvem a capacidade de pensar de forma mais complexa e de questionar o mundo ao seu redor. Isso pode levar a comportamentos impulsivos e a uma busca por identidade. Por isso, é essencial a família e a escola manterem uma comunicação aberta e um relacionamento de respeito para ajudar os adolescentes a navegar por essa fase com sucesso.
Segundo Eliana Santos, educadora e coordenadora da EDF – Escola do Futuro Brasil todas as gerações têm os seus desafios, e com as mudanças da sociedade relativas aos aspectos culturais, tecnológicos e outras situações da vida moderna, os comportamentos tendem a seguir alguns padrões comprometidos, como: falta de foco de atenção, dificuldade em trabalhar com padrões de autoridade, interação social comprometida pelo uso excessivo de tecnologias e dificuldade em lidar com frustrações.
Ela explica que alguns adolescentes apresentam dificuldades envolvendo desafios comportamentais, que podem impactar diretamente no desenvolvimento pessoal e acadêmico, como problemas familiares, de autoestima por conta dos padrões sociais e enfrentamento de condições de saúde mental. “Os pais envolvidos na educação dos filhos possuem a condição de dialogar sobre essas questões do cotidiano, com uma proximidade e intervenção mais claras com os filhos quando necessário. Desse modo eles podem se envolver com maior apoio emocional, com escuta atuante para aperfeiçoar a resolução dos conflitos da faixa etária e até compreender mais claramente a fase em que estão passando, modelando o comportamento de modo atuante e crítico”, explica.
Escola na adolescência
A instituição educacional também possui um papel fundamental com os estudantes que possuem alguma dificuldade social em lidar com questões cotidianas envolvendo o bullying e a saúde mental, situações que podem ocorrer de modo interligado. “Por isso, a escola precisa acolher esse jovem, promovendo um ambiente seguro e inclusivo, realizando campanhas de prevenção e intervenção, criando redes de apoio, preparando a equipe pedagógica com formações específicas e orientadoras, tendo uma escuta ativa e envolvendo sempre os estudantes como protagonistas na relação social”, detalha Eliana Santos.
A educadora explica que a parceria entre professores e pais é primordial para melhor encaminhamento das questões dos estudantes. “A comunicação compartilhada, precisa ser clara e aberta como ponto de apoio importante para o melhor andamento e resolução de questões comportamentais e acadêmicas.
Além disso, é importante envolver as famílias na participação rotineira da escola e em redes de apoio e ainda orientar e definir planos acadêmicos com as expectativas necessárias ao aprendizado dos estudantes”, explana.
Portanto, cabe à escola a implementação de estratégias que promovam um ambiente saudável para os adolescentes, com foco no bem-estar social, acadêmico e emocional. “Essas estratégias criam um ambiente acolhedor, parceiro, saudável, solidário e com comunicação e escuta ativa”, explica a coordenadora.
Impactos da internet na adolescência
Atualmente, o que tem causado impacto significativo no comportamento dos adolescentes, tanto positivo quanto negativo, é o uso da tecnologia. Apesar das ferramentas terem inúmeras utilidades benéficas como conexão social, acesso a informações, desenvolvimento de habilidades e criatividades, elas também podem desvirtuar a juventude, quando usadas excessivamente, causando dependência e vício, problemas de saúde mental, dificuldade de concentração, falta de privacidade e segurança, isolamento e falta de interações sociais presenciais.
Para Fumi Hoshino – Educadora e Coordenadora de Tecnologia da Escola do Futuro Brasil, o uso indiscriminado da tecnologia se torna uma distração, que compromete a concentração dos alunos, podendo afetar o desempenho acadêmico. “No entanto, quando ela é utilizada de forma intencional, com propósitos pedagógicos específicos, é um recurso valioso que pode enriquecer significativamente o processo de ensino e aprendizagem, proporcionando aos alunos oportunidades de desenvolver habilidades relevantes para o século XXI”, esclarece.
Porém, para ela, o principal desafio neste contexto, é a compreensão dos alunos de que a tecnologia proporciona muito mais possibilidades quando não são apenas simples consumidores. “A partir do momento em que os alunos percebem isto, criando ebooks, vídeos editados, podcasts, entre outros, passam a ter uma visão muito mais ampla do que podem desenvolver utilizando os recursos tecnológicos de forma útil. Isto contribui para o desenvolvimento da autoestima e aumenta o interesse pelos conteúdos desenvolvidos em sala de aula. Várias são as possibilidades de impactos positivos com o uso intencional e responsável da tecnologia”, detalha.
Mas, cabe aos pais e tutores usarem estratégias para lidar com o impacto negativo causado pelo uso exagerado de telas, fora do período educacional, pois o excesso influencia negativamente o comportamento dos adolescentes. Por isso, é necessário estabelecer limites claros sobre o tempo que eles podem passar em dispositivos digitais e garantir que desenvolvam mais atividades offline. Para promover esse equilíbrio é recomendável incentivar atividades variadas, como esportes, hobbies e interação social pessoal. Isso ajuda a garantir um equilíbrio saudável entre o tempo digital e as experiências do mundo real. Esse acompanhamento, orientação e fiscalização é uma forma de apoiar a saúde mental dos adolescentes e estar atento ao bem-estar emocional, oferecendo apoio quando estiverem enfrentando problemas relacionados à tecnologia.
Compreensão e empatia
Ainda que as crises da adolescência possam ser desafiadoras tanto para os adolescentes quanto para os pais, é essencial o uso da compreensão e da empatia. Nesta fase é importante tentar entender o que seu filho está passando, mantendo uma linha de comunicação aberta e honesta e também a escuta ativa, evitando julgamentos. Isso ajudará o jovem a se sentir valorizado e compreendido.
Embora seja importante ser flexível, ter regras e limites claros pode fornecer uma estrutura que os adolescentes precisam para se sentirem seguros. “A falta de limite demonstra pouco caso e falta de interesse na boa educação dos próprios filhos. Há uma deturpação sobre esse assunto, pois alguns pais dizem que deixam os filhos fazerem o que querem, porque os amam e anseiam que sejam felizes. Mas, na realidade, isso é uma confusão! Como deixá-los fazer sempre o que querem, na hora que querem, mesmo sem entender se será bom ou ruim, se é aconselhável ou perigoso ou quais serão as consequências de determinadas atitudes. Limite é uma demonstração de amor, de preocupação e de cuidado com o bem estar, com o crescimento e com o amadurecimento das crianças e adolescentes”, alerta Cris Poli, coordenadora da EDF.
Além disso, é fundamental estar presente e envolvido na vida do seu filho e mostrar interesse nas suas atividades, amizades, preocupações e por onde estão navegando na internet. Lembre-se de que os adolescentes muitas vezes imitam o comportamento dos pais, por isso, demonstre como lidar com desafios e emoções de maneira saudável, de forma que influencie positivamente. Promova a autonomia, permitindo que seu filho tome decisões e assuma responsabilidades de acordo com a sua capacidade, pois isso ajuda a construir confiança e habilidades de tomada de decisão. É normal que haja conflitos, mas tentar manter a calma durante discussões pode ajudar a resolver problemas de maneira mais eficaz e evitar que as situações escalem. Se necessário, busque ajuda profissional em crises que parecem insuperáveis.
Para lidarem bem com a fase da adolescência dos filhos, os pais também precisam cuidar da sua própria saúde mental e bem-estar, pois se estiverem estressados ou sobrecarregados esses desafios parecerão intransponíveis. Fora isso, reconheça e celebre as conquistas e progressos do seu filho, por menores que sejam. Isso ajuda a fortalecer a autoestima e a motivação deles. Lembre-se que cada adolescente é único, e o que funciona para um pode não funcionar para outro. A chave é ser flexível e paciente enquanto você ajusta seu estilo de parentalidade para atender às necessidades específicas do seu filho.