Como identificar e tratar a depressão em crianças e adolescentes

Os índices de depressão em crianças e adolescentes têm sido uma preocupação crescente em saúde mental

Estudos sugerem que entre 2-3% das crianças e 4-8% dos adolescentes em todo o mundo sofrem de depressão. A condição pode começar na infância, mas é mais comum na puberdade e a maioria dos casos começam antes dos 18 anos. São vários os fatores que podem aumentar o risco da depressão, incluindo genética, fatores biológicos, traumas, estresse, problemas familiares, exposição a ambientes negativos e a pressão social, etc. O excesso do acesso à internet, jogos virtuais, redes sociais e grupos online também são um dos motivos que roubam a infância e a juventude, ocasionando graves impactos emocionais.

Sinais e sintomas

Em crianças e adolescentes, a depressão pode se manifestar de maneira diferente do que em adultos. Os sinais da condição surgem com mudanças no comportamento, irritabilidade, agressividade, isolamento social, dificuldades e quedas no desempenho escolar, falta de interesse nos estudos, problemas de relacionamento e perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, como esportes hobbies ou interações sociais.

Entre os indícios emocionais estão a tristeza persistente ou choro frequente sem uma razão aparente; sentimentos de inadequação, baixa autoestima ou culpa excessiva e pessimismo com uma visão negativa sobre o futuro ou sobre si mesmo.  Já fisicamente se manifesta com mudanças significativas no apetite ou sono (aumento ou perda); problemas para dormir (insônia ou hipersonia) e também queixas físicas frequentes de dores de cabeça, dores estomacais ou outros sintomas corporais sem uma causa médica clara. 

Os traços de que algo não vai bem com as crianças e adolescentes acontece quando buscam o isolamento, evitando com frequência amigos e familiares. Não é saudável eles passarem muito tempo sozinhos, ou recusarem-se a participar de atividades sociais. Outro alerta pode ser os excessivos problemas de relacionamentos com familiares, amigos ou na escola, com colegas e professores, e dificuldade em se relacionar positivamente de forma duradoura.

Os pais ou tutores devem estar atentos – por significarem um perigo eminente – aos pensamentos de morte ou suicídio, normalmente demonstrados por falas sobre querer morrer ou fazer referências a pensamentos suicidas. Isso é uma emergência e deve ser tratado imediatamente. A autolesão também é um sinal de alerta, pois comportamentos como cortar-se ou queimar-se é anormal e requer muita atenção e cuidado.

Como cuidar da depressão 

Se a criança ou adolescente está dando sinal que pode estar depressivo ou com algum tipo de desequilíbrio mental e emocional é muito importante a busca de ajuda de saúde profissional. Procure um psicólogo, psiquiatra ou terapeuta especializado em saúde mental infantil e adolescente. Por mais que os pais tentem ajudar e fazer o que podem para manter seus filhos saudáveis psicologicamente, os especialistas são preparados para realizar avaliações e recomendar o tratamento adequado. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) e outras abordagens terapêuticas podem ser eficazes no tratamento da depressão.

Além disso, é muito importante que a família estabeleça uma relação de confiança com uma comunicação aberta, num ambiente onde a criança e o adolescente se sintam confortáveis para expressar seus sentimentos e preocupações sem medo de julgamento. O apoio emocional é a melhor forma de mostrar empatia e compreensão, é estar disponível para ouvir e oferecer suporte.

Também é salutar promover um ambiente positivo e estável com rotinas e estrutura regular para proporcionar segurança e previsibilidade. Por isso, busque estabelecer horários consistentes para refeições, estudos e sono. A família e os cuidadores devem criar um ambiente familiar que seja acolhedor e estável, reduzindo conflitos e estresse dentro de casa. “É importante que os pais possam auxiliar os seus filhos a conciliarem a sua rotina, o que inclui o estudo e os interesses e atividades pessoais. A falta de organização pode gerar conflitos e até ansiedade intensa em relação aos afazeres como: as provas, trabalhos e escolhas no período dos vestibulares” alerta Eliana Santos, coordenadora da Escola do Futuro Brasil. O envolvimento e o apoio nas atividades escolares deles é uma demonstração de interesse no que fazem, por isso mantenha uma boa comunicação com professores e conselheiros escolares. Eles podem fornecer suporte adicional e ajudar a monitorar o progresso das crianças e adolescentes.

Outra maneira de evitar a depressão é o encorajamento de hábitos saudáveis como a prática regular de atividades físicas e esportivas, que podem melhorar o humor e reduzir o estresse. Manter uma alimentação equilibrada e hábitos de sono saudáveis auxiliam no bem estar e sem dúvida, são fundamentais para a saúde física e mental. Além disso, incentive a participação em eventos sociais e hobbies que seu filho goste e ainda facilite encontros com amigos e familiares. É saudável que eles participem de afazeres extracurriculares que possam aumentar a autoestima e proporcionar prazer. 

Ao adotar uma abordagem proativa e solidária, os pais podem contribuir significativamente para o bem-estar emocional e psicológico de seus filhos. Para Cris Poli, que também é coordenadora pedagógica da EDF, é muito importante a demonstração de amor numa comunicação gentil durante todo o desenvolvimento das crianças e adolescentes, que pode ser aperfeiçoado conforme eles vão crescendo. “Exercer essa afetividade na íntegra e com força, exige dedicação e tempo, não tem nada como os olhos nos olhos, um abraço, um toque no ombro de incentivo, um aperto de mão, um carinho nos cabelos, um sorriso, um agradecimento, o se desculpar e até mesmo o simples ato de ouvir tudo o que eles têm a dizer, antes de expressar sua opinião”, explica.

Por isso, fomente a autonomia e a autoestima dos seus filhos, incentivando atividades que promovam a autoestima e a autoconfiança. Também é importante elogiar seus esforços e conquistas, não apenas os resultados.  Eles precisam ter a oportunidade de tomar decisões e assumir responsabilidades apropriadas para sua idade.

Educação e conscientização

Atualmente a educação vai além de ensinar bons modos e normas familiares, pois é muito importante também conversar sobre atualidades, situações que possam vir a enfrentar, falar sobre emoções e sentimentos, ouvir suas queixas e também educar quanto a depressão e outras patologias psicológicas, seus sintomas e formas de tratamento. As crianças e os adolescentes não podem ser vítimas da desinformação e precisam ser comunicados abertamente sobre tudo e também sobre saúde mental, para reduzir o estigma e promover uma atitude positiva em relação à busca de ajuda. “Pais presentes e que propiciam um ambiente aberto ao diálogo constroem vínculos consolidados, oportunizando a formação integral e de realização”, aconselha Eliana Santos.

As escolas também podem participar desta educação sobre saúde mental, que ajudam a identificar e lidar com a depressão precocemente com rodas de conversas e palestras sobre o assunto tanto com os alunos como com seus familiares. “Hoje infelizmente a depressão é um mal que tem afetado a nossa juventude, com isso, tanto os pais como a escola devem ficar atentos aos comportamentos deles na identificação do problema. Os educadores costumam relatar as famílias quando detectam condutas diferentes nos alunos e auxiliam na observação, temos uma rede de apoio importante para os estudantes e as suas famílias nestas questões. Mas, caso os sintomas sejam frequentes, orientamos as famílias para buscarem a melhor solução, consultar um médico especializado que indicará o melhor tratamento de saúde, de forma que a dificuldade não se desenvolva para situações mais graves”, explica Ivone Muniz, diretora da Escola do Futuro Brasil.

Quando diagnosticada a depressão os pais devem comunicar a escola, para auxiliar no acompanhamento, e monitorar e tratar com avaliação contínua para conferir o progresso clínico e também é preciso um ajuste conforme necessário. Além disso, deve-se manter uma comunicação regular com os profissionais de saúde mental e buscar o feedback contínuo do seu filho sobre o tratamento e quaisquer preocupações adicionais que possam surgir. 

Identificar e cuidar da depressão em crianças e adolescentes pode ser desafiador, mas é essencial para garantir o bem-estar emocional e mental. Lembre-se que é uma condição tratável e que o apoio contínuo e o envolvimento dos pais são fundamentais para ajudar a criança ou adolescente a superar a depressão e promover uma recuperação saudável.

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