O sofrimento da criança reflete na evolução acadêmica, por isso, a falta de uma escuta e ações por parte da escola, gera frustração nos pais.
O bullying sofrido por crianças e adolescentes na escola não é algo novo, a maioria dos adultos lembram-se de ao menos um episódio da época em que estudavam, onde sofreram agressões verbais, físicas ou psicológicas e o quanto sentiram-se humilhados e intimidados. Os estudantes da atualidade passam pelos mesmos problemas, tendo como agravante que agora os abusos também podem acontecer entre colegas do mesmo colégio, pela internet e até mesmo em grupos ou mensagens de celular. Mas, será que os pais devem trocar a escola dos filhos por causa destes acontecimentos?
Agressões frequentes podem prejudicar a vítima de inúmeras maneiras, trazendo graves consequências como o isolamento social, perda de motivação, piora no rendimento escolar e ainda causar traumas psicológicos. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2023, um percentual superior a 40% dos estudantes adolescentes admitem já terem sofrido com a prática de bullying, com provocação e intimidação. Os pesquisadores constataram que a agressão, que se insere no contexto de saúde mental, já era preocupante antes da pandemia e sofreu um agravamento no pós-pandemia.
Quando o bullying acontece, os pais, no primeiro momento, buscam dialogar com a escola. Esperam uma solução para o problema e, como nem sempre há uma resolução, muitos optam por mudar o estudante de instituição educacional. “Os pais de crianças que sofrem esse tipo de agressão têm a expectativa de que a liderança da escola tenha alguma atitude para sanar esses eventos. Seja uma conversa com os alunos envolvidos, uma reunião com os pais ou palestras que esclareçam o assunto. Mas, infelizmente, alguns deles não se sentem amparados ou ouvidos. O pior, é que o sofrimento da criança reflete na evolução acadêmica, por isso a falta de uma escuta e ações por parte da escola, gera como uma frustração na família. Aqui na Escola do Futuro, depois da pandemia, aumentou a procura por matrículas para crianças e jovens, com históricos de bullying em outros ambientes escolares”, explica Maria Fernanda Yamamoto, responsável pelo departamento de matricula.
Segundo ela, na EDF há casos de adolescentes com histórico desse tipo de agressões, que realmente viveram uma transformação e puderam demonstrar seus talentos, pois foram bem acolhidos pelos novos colegas e professores. “Para evitar que o estudante continue sofrendo bullying, as famílias passam por entrevistas com as coordenadoras, que ficam cientes das questões que envolvem os alunos e, junto com os professores, fazem um acompanhamento de perto, na vivência dentro da escola. O trabalho desenvolvido pelos conselheiros de bem-estar junto aos adolescentes tem auxiliado nos aspectos emocionais, comportamentais e de autoconhecimento”, explica.
Segundo Silvia Tocci Masini, que é educadora, psicanalista e psicopedagoga, a escola deve fazer sua parte para evitar o bullying, mas cabe aos pais cuidarem e acompanharem em todas as circunstâncias e lugares onde eles interagem. “Em relação ao Bullying é importante observar: quem são as pessoas que estão praticando e, por que estão agindo desta forma? Por que alguns estudantes são vítimas e sofrem com isso com certa frequência? É preciso investigar porque essa criança ou adolescente está sempre neste lugar em que sofre esse tipo de agressão e fazer um trabalho para que ela possa sair deste lugar e sentir-se seguro e potente para retirar-se desta posição. Pois, caso isso não seja tratado, ele corre o risco de viver isso a vida toda; na faculdade, no trabalho, em relacionamentos pessoais, entre outros. É muito importante avaliar o contexto e principalmente como ele se coloca dentro deste todo. Essa investigação cabe às famílias, escola e até mesmo terapeutas especializados”, complementa. Ela desenvolve na Escola do Futuro uma roda de apoio com objetivo de observar os alunos nas salas de aula, que conta com um professor tutor e dois conselheiros, na identificação e busca da melhor ação, mantendo a família informada.
Para conscientizar e auxiliar os pais em diversos assuntos relacionados à saúde mental e comportamental dos estudantes, Silvia também criou dentro da instituição particular uma Escola de Pais, voltada para o Ensino Fundamental II e Médio, onde realiza Rodas de Conversas. Na atualidade, cabe às escolas não somente garantir bons conteúdos, é preciso garantir a boa convivência, com respeito, tolerância e apoio aos estudantes e suas famílias. Além disso, segundo a diretora executiva da Escola do Futuro, Ivonne Muniz, nas aulas de orientação educacional é desenvolvido um projeto de auto aceitação e também da aceitação das diferenças entre as pessoas, promovendo esse debate na sala de aula. “Os resultados são sempre muito positivos. Por isso, muitas vezes os próprios estudantes protegem uns aos outros, dentro dessa cultura que instalamos. A base desses projetos é ensinar o amor a si e a Deus – um dos pilares do ensino da Escola do Futuro”.