Nos Estados Unidos, a partir de 2025, menores de 14 e 15 anos deverão obter um “consentimento mínimo” de seus pais ou responsáveis para poderem acessar as redes sociais.
O uso de redes sociais tem se tornado uma das atividades mais populares entre crianças e adolescentes em todo o mundo. Plataformas como Instagram, TikTok e Facebook são, muitas vezes, o principal meio de comunicação e interação social dessa faixa etária. No entanto, embora essas redes sociais possam ser vistas como ferramentas para aproximar pessoas e facilitar a comunicação, seu uso excessivo pode ter consequências graves na saúde mental e emocional dos jovens.
Estudos indicam que o impacto das redes sociais no comportamento e na psique dos jovens é mais profundo do que se imagina. O constante uso de dispositivos móveis e a exposição à vida idealizada que circula nas redes podem afetar a autoestima, aumentar os níveis de ansiedade e até mesmo provocar distúrbios psicológicos como depressão e isolamento social. Além disso, o tempo excessivo dedicado às telas acaba impactando a capacidade de concentração, o desempenho escolar e as habilidades sociais no mundo real.
O desafio do acesso precoce e da falta de limites
Nos Estados Unidos, uma medida foi proposta para enfrentar esse problema. A partir de 2025, menores de 14 e 15 anos deverão obter um “consentimento mínimo” de seus pais ou responsáveis para poderem acessar as redes sociais. Essa iniciativa surge em um contexto onde as crianças estão se conectando às redes cada vez mais cedo, com idades muito abaixo da recomendada por plataformas como o Facebook, que estabelece como limite a idade de 13 anos para a criação de contas.
No Brasil, embora a idade mínima para o uso das redes sociais seja a mesma, a realidade é que muitas crianças e adolescentes acabam tendo acesso a essas plataformas antes dos 13 anos, o que representa um grande desafio para pais, educadores e profissionais de saúde. “É importante destacar que, mesmo quando a criança atinge a idade mínima estipulada, o uso excessivo de redes sociais ainda representa um risco considerável para o seu desenvolvimento”, explica Priscila Moraes, coordenadora do Ensino fundamental 2 e médio da EDF – Escola do Futuro Brasil.
A educadora aponta que “o problema não está apenas na idade de acesso, mas no tempo que as crianças passam conectadas. A gestão do tempo online é um desafio para os adultos, imagina para os mais jovens, que ainda estão em processo de desenvolvimento emocional e psicológico.” O que se observa, cada vez mais, é que os adolescentes estão trocando atividades importantes, como estudos, prática de esportes e convívio familiar, pelo tempo gasto nas redes sociais.
Os efeitos psicológicos do uso excessivo de redes sociais
Entre os principais malefícios do uso excessivo de redes sociais está o impacto na saúde mental dos jovens. A constante comparação com padrões de vida idealizados e a busca incessante por validação em forma de curtidas, comentários e seguidores pode gerar sérios distúrbios emocionais. A ansiedade gerada pela necessidade de aprovação virtual é uma das consequências mais visíveis desse comportamento.
Priscila Moraes ressalta que “as redes sociais criam um ambiente onde o feedback instantâneo, como as curtidas, se torna uma forma de validação social. Para muitos jovens, esse ciclo é viciante, o que pode afetar profundamente sua autoestima.” Esse desejo de validação pode levar a um aumento na ansiedade, sobretudo quando as respostas não são as esperadas. “O medo de não ser aceito, de não obter a quantidade de curtidas ou interações desejadas, pode causar um desgaste emocional significativo”, alerta a educadora.
Além disso, a exposição constante a imagens idealizadas, de corpos perfeitos, viagens incríveis e vidas sem problemas, pode aumentar a sensação de inadequação entre os jovens. Esse tipo de conteúdo, que é muitas vezes distorcido e não reflete a realidade, pode afetar diretamente a percepção do corpo e o bem-estar emocional. Os adolescentes, na tentativa de se adequar aos padrões criados nas redes sociais, podem começar a desenvolver transtornos alimentares, transtornos de imagem corporal ou, no caso de alguns, se envolver com comportamentos autodestrutivos.
O impacto na cognição e no desenvolvimento social
Além dos danos emocionais, o uso excessivo de redes sociais também afeta a cognição dos jovens. Com o tempo, a exposição constante a múltiplos estímulos e a prática do multitasking (fazer várias coisas ao mesmo tempo) pode prejudicar a concentração e o foco. Isso é especialmente preocupante no contexto escolar, onde a atenção plena é essencial para o aprendizado.
O que acontece é que, ao alternar rapidamente entre atividades no celular, como visualizar vídeos curtos, responder mensagens e ver fotos, os jovens acabam perdendo a capacidade de se concentrar em tarefas mais longas e profundas, como a leitura ou os estudos. Priscila Moraes explica que “a constante troca de atenção entre o celular e as atividades cotidianas pode diminuir a capacidade de focar em uma única tarefa, o que prejudica o rendimento escolar e o desenvolvimento de habilidades cognitivas.”
Outro fator importante é o impacto social. Quando os jovens se dedicam em excesso às redes sociais, eles deixam de lado a interação face a face com amigos e familiares, o que pode gerar isolamento. As interações virtuais, apesar de parecerem conexões, não substituem o vínculo real e a troca de experiências no mundo físico. Essa desconexão social pode levar ao aumento da solidão e da sensação de não pertencimento, agravando ainda mais os quadros de ansiedade e depressão.
A importância da supervisão dos pais
Diante desses riscos, o papel dos pais se torna ainda mais crucial. Os pais precisam estar atentos ao tempo que seus filhos passam nas redes sociais e aos tipos de conteúdo que estão consumindo. Embora o consentimento para acessar as redes sociais seja um passo importante, como a medida dos Estados Unidos, que só permitirá o acesso de jovens com a aprovação dos pais, o mais importante é a gestão diária do tempo online.
“Os pais precisam conversar com seus filhos sobre o uso das redes sociais, estabelecendo limites claros, horários e os locais apropriados para o uso dos dispositivos”, afirma a educadora da Escola do Futuro Brasil. “Além disso, é fundamental que os pais expliquem que não podem ter segredos nas redes sociais. Esse diálogo aberto é essencial para que as crianças saibam que os pais têm o direito de acessar os conteúdos que estão consumindo, protegendo-os de riscos como o contato com pessoas mal-intencionadas.”
Esse tipo de supervisão deve ser feito com cautela, sem invadir a privacidade do jovem, mas mostrando que o objetivo é protegê-lo. “É necessário explicar os riscos reais, como o compartilhamento de dados pessoais sem perceber, e como muitas vezes grupos que parecem seguros podem não ser”, enfatiza Priscila.
Como proteger a saúde mental e emocional no mundo digital
A educação digital é uma das formas mais eficazes de ajudar as crianças e adolescentes a lidarem com os desafios das redes sociais. Os pais e educadores devem estar atentos não apenas aos comportamentos online, mas também ao impacto emocional das redes sociais. O diálogo constante é fundamental para que o jovem entenda os riscos e saiba se proteger.
Além disso, é importante que os pais incentivem atividades no mundo real, como esportes, hobbies e encontros presenciais com amigos e familiares. “A distração proporcionada pelas redes sociais não pode substituir o desenvolvimento emocional e social das crianças”, afirma Priscila. “É preciso ajudar os jovens a encontrar um equilíbrio, para que o mundo digital não se sobreponha ao mundo real.”
Os jovens também precisam ser orientados a refletir sobre o que estão consumindo nas redes sociais e a importância de se distanciar de conteúdos que possam gerar sentimentos negativos. Ao observar que o consumo de certas redes ou influenciadores está afetando sua autoestima, é essencial que eles sejam encorajados a desinstalar aplicativos ou dar um tempo para se desconectar.
Conclusão
Embora as redes sociais tragam benefícios como a aproximação entre pessoas e a oportunidade de aprendizado, seu uso excessivo pode causar danos significativos à saúde mental e emocional de crianças e adolescentes. O impacto psicológico das redes sociais, combinado com o tempo prolongado de tela, tem gerado preocupação mundial, resultando em medidas como a proposta dos Estados Unidos para 2025. No Brasil, o desafio é estabelecer limites eficazes para o uso dessas plataformas e garantir a segurança dos jovens no ambiente digital.
O papel dos pais é fundamental nesse processo. Estabelecer limites claros, manter um diálogo aberto e acompanhar de perto o comportamento digital dos filhos são ações essenciais para protegê-los dos riscos do mundo online. Em um ambiente onde a pressão social e a busca por validação estão em constante crescimento, é essencial que as crianças e adolescentes aprendam a usar as redes sociais de forma equilibrada, preservando sua saúde emocional e o bem-estar psicológico.